Saber como dar os primeiros passos é essencial para avançar na rota certa da transformação digital.

 

Muito se fala sobre transformação digital, mas pouco se sabe na prática sobre quais são as etapas que devem percorridas para que uma empresa atinja um nível alto de maturidade digital.

 

Segundo Adriano Filadoro, sócio-diretor da Online Data Cloud e especialista em cloud computing, o patamar mais alto da transformação digital é a capacidade de transformar dados em conhecimento. E antes de uma empresa chegar a esse estágio, podemos dividir o caminho que será percorrido em 4 fases, basicamente:

 

Monitoramento dos dados

 

“Poucas empresas sabem ler, interpretar e extrair valor dos dados gerados internamente ou ainda tirar proveito de dados externos para dinamizar seus negócios”, destaca Adriano. E esse é o principal fator que trava as empresas que só monitoram e não fazem nada com esses dados no primeiro estágio da transformação digital. 

 

Previsão e prescrição

 

O salto para o segundo estágio, de acordo com Filadoro, é entender o comportamento dos dados. “A partir do momento que eu entendo o comportamento do dado eu posso ser preditivo e prescritivo”. E ao ser preditivo e prescritivo, é possível identificar padrões e oportunidades e obter novos insights que levam ao próximo estágio, que é a otimização.

 

Otimização

 

A partir do momento que eu passo a ser preditivo e prescritivo, eu passo para a parte de otimização de processos, aqui entre a inteligência artificial, o treinamento de redes neurais, e o treinamentos de modelos. Então, eu treino um modelo porque, a partir do momento que eu otimizo, eu não preciso mais que essa decisão seja tomada, é automático. 

 

Monetização

 

“E a partir do momento que as decisões passam a ser automatizadas, é possível enxergar a monetização disso. Ou seja, todos os departamentos melhoram os índices e você pode ter uma empresa efetivamente transformada e dirigida a dados. Isso é transformação digital”, destaca Adriano.

 

Mas não se trata de mágica. “Na falta de uma bola de cristal que funcione, alguns executivos têm se mostrado bastante inseguros quanto a definir um caminho a seguir”, explica Filadoro. 

 

De acordo com o Índice de Maturidade Digital da McKinsey, as empresas do país foram categorizadas em quatro grupos de desempenho, considerando o seu grau de maturidade nas dimensões e práticas avaliadas: 

 

– Líderes digitais com pontuação acima de 51 na escala da ferramenta A&DQ; 

– Ascendentes com pontuação acima de 35, mas inferior à das líderes digitais; 

– Emergentes com pontuação acima de 25, mas inferior à das ascendentes; 

– Iniciantes com pontuação abaixo de 25. 

 

Ainda segundo o estudo, “o sucesso da transformação digital de uma empresa será determinante para sua permanência no mercado brasileiro atualmente e no futuro”. A pontuação média da maturidade digital das empresas no Brasil é de 39, o que reforça a importância de saber como iniciar da maneira correta nesse processo, e que alcançar essa maturidade não é uma tarefa tão distante para as empresas brasileiras quanto se acredita.  

 

Por isso, o ponto de partida antes de chegar ao monitoramento e a inteligência dos dados para trazer otimização e, inclusive, rentabilidade para a empresa, é saber como dar os primeiros passos, na prática, no processo de transformação digital.

 

1 – Entender o modelo de negócio é o primeiro passo para a transformação

 

“A primeira etapa é analisar qual é o modelo de negócio que a empresa possui e que tipo de impacto o uso de tecnologias que não se encontram naquele momento em uso podem trazer de benefício naquele contexto. Isso implica também numa segunda vertente, ainda em relação à definição e compreensão do modelo de negócio, que é ampliar os processos internos que a empresa possui, assim como seu ciclo de produtos. A partir desse mapeamento, é que se torna possível analisar e verificar que tipo de impacto o uso de diferentes tecnologias pode trazer”, de acordo com a professora Pollyana Notargiacomo, da Faculdade de Computação e Informática da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

 

2 – Trabalhar uma mudança de cultura dentro da empresa

 

“Quando não há uma mudança cultural, a gente acaba tendo um risco muito alto que é a falta de adesão dos colaboradores em relação ao uso dessas tecnologias. E aí, muitas vezes, acaba sendo dispendioso o investimento e o retorno baixo porque aquilo não passou a fazer parte da cultura da empresa, porque as pessoas não compraram essa ideia, o que torna todo o modelo de negócio mais complexo. A equipe precisa entender que não é apenas uma mudança, mas sim algo que vai tornar o trabalho mais efetivo, mais preciso, que isso vai trazer benefícios para a atividade profissional. É indicado, inclusive, trabalhar essa mudança de cultura a partir da qualificação e do treinamento das equipes e dos colaboradores que estejam envolvidos, para que percebam o quanto a transformação agrega valor e facilita as operações”, recomenda Pollyana.

 

3 – Revisar os processos considerando a experiência do usuário

 

A professora levanta que o cuidado não está só em oferecer capacitação. “A mudança de cultura também envolve a percepção das melhorias que esse novo cenário pode trazer para a operação da empresa. Isso implica em mais uma questão, que é revisar os processos que envolvem a experiência do usuário. Muitas vezes, a gente tem implantação de sistemas em empresas, só que esses sistemas não têm uma usabilidade, a parte intuitiva do uso adequada, tornando o uso complicado, e isso dificulta a revisão também. Então, é fundamental revisar essas experiências buscando a melhoria desses processos”.

 

4 – Fazer um levantamento dos ativos tangíveis e intangíveis

 

“Outro detalhe importante quando se trata de transformação digital, é mapear quais os ativos tangíveis e intangíveis da empresa e como essas tecnologias vão impactar os tangíveis (equipamentos, locais de trabalhos, etc,) e os intangíveis, ou seja, o que isso pode agregar em relação à marca, a reputação que a empresa possui, como isso pode ampliar o networking, como pode ser feito um desenvolvimento de talentos, que façam uso dessas tecnologias agregando outras qualidades e habilidades que essas pessoas já possuem”, destaca Pollyana.

 

5 – Analisar o impacto das novas tecnologias em relação às já existentes

 

“Tem que analisar os sistemas que já existem dentro da empresa, muitas vezes é necessário fazer um estudo e verificar se é possível fazer um acoplamento, uma adaptação dos sistemas, muitas vezes, as empresas contam com sistemas legados que foram desenvolvidos há muito tempo e que já quase nem possuem manutenção, e etc. Ou se é necessário fazer toda uma transposição para esse novo cenário adaptado ao negócio, a partir da estratégia que a empresa vai adotar. 

 

A partir de um projeto piloto para inicialização, que vai implicar na troca de elementos físicos por elementos digitais, pela virtualização, que pode ser a virtualização de um serviço, de um processo, etc., é possível fazer ao longo dessa implementação, as análises do que ainda precisa ser adequado, do que precisa ser modificado e do que tem que ser melhorado para ampliar depois essa operação dentro da empresa e passar a instituir um novo cenário de inovação e adaptação de tecnologias digitais, que representa um estágio de maior maturidade, porque a empresa já conseguiu transformar o seu interior e a sua operação, e aí ela já tem a expertise e o background para poder inovar e oferecer diferentes cenários a partir da transformação digital que foi iniciada”, complementa a professora do Mackenzie.

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