A inovação e a vantagem competitiva das empresas, estão intimamente ligadas às boas práticas de gestão de dados.

 

Em um mundo cada vez mais conectado, a busca pela inovação passou de diferencial para um dos fatores decisivos que determinam se uma empresa está preparada para alavancar sua maturidade digital e se manter competitiva em um mercado cada vez mais disputado.

 

O grande impeditivo de implementar uma inovação disruptiva dentro de uma companhia é que sempre existiu certa resistência por parte dos tomadores de decisão, ao imaginar um cenário futurista, que demanda grandes esforços e custos. Mas se essa necessidade de inovar já se mostrava cada vez maior, em um cenário pós-pandemia, ela será ainda mais decisiva e já está mudando a visão das lideranças estratégicas. Segundo estudo da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), 83% das empresas analisadas afirmaram que precisarão de mais inovação para crescer e, até mesmo para sobreviver em um cenário pós-pandemia.

 

 

O papel dos dados para desbloquear a inovação

 

Antes de olhar para fora, há uma maneira de dar um passo importante na inovação: o gerenciamento dos dados. Ao trabalhar da maneira correta com os dados, as decisões passam a ser mais estratégicas e vão muito além da inovação futurista. Uma empresa dirigida a dados tem todos os elementos necessários para otimizar a operação, monitorar e corrigir, de maneira preditiva, gaps que afetam as áreas, e gerar insights valiosos que trazem novas oportunidades de crescimento e até de rentabilidade. 

 

Mas para que os dados gerem resultados é fundamental que eles sejam qualificados.

 

De acordo com a Pesquisa Global de Gestão de Dados 2020, da Serasa Experian, que possui o maior banco de dados financeiro do país, 85% do profissionais entrevistados acreditam que a qualidade dos dados é um dos itens mais valiosos para uma empresa, mas em contrapartida, revelam que ainda não tem total entendimento dos resultados. Assim, podemos perceber que muito do receio tem origem na própria falta de entendimento e conhecimento de uma gestão de dados eficiente, já que no mesmo estudo, 50% das empresas brasileiras entrevistadas afirmam que a confiabilidade das suas análises é prejudicada. Isso se torna ainda mais preocupante, quando o levantamento mostra que a perda de recursos e o aumento de gastos relacionados aos dados que não são gerenciados corretamente é de 42%. 

 

Para garantir a confiabilidade e a qualidade, de  acordo com Pollyana Notargiacomo, professora da Faculdade de Computação e Informática da Universidade Presbiteriana Mackenzie, o principal ponto de partida é olhar para os erros mais comuns no gerenciamento de dados e se apoiar em boas práticas para que eles sejam evitados ou corrigidos, o mais rápido possível. 

 

Confira os 4 erros no gerenciamento de dados

 

1 – Não definir qual é o objetivo da gestão de dados

 

“A primeira questão quando a gente fala de gestão de dados, é definir qual é o objetivo de gerir esses dados, o que a empresa busca com esses dados. Qual é a meta? Um problema que acontece com muita frequência é a falta de definição clara do público-alvo. Quem é o público que eu estou coletando as informações e que vou trabalhar, e o que eu vou fazer com essas informações? Eu vou oferecer serviço para esse público, eu vou segmentá-los para quê?”, levanta Pollyana. A professora afirma que essas perguntas são essenciais para garantir a qualidade do gerenciamento. 

 

2 – Falta de integração entre as áreas

 

“Outro detalhe fundamental quando a gente fala em gestão de dados é integrar diferentes setores da empresa, conseguir que diferentes informações coletadas por setores, como recursos humanos, serviços, etc, possam integrar esses dados e consolidar um panorama geral maior sobre o cenário que está sendo trabalhado e gerenciado”, destaca Pollyana. Acreditar que trabalhar com dados é uma responsabilidade apenas das áreas de tecnologia e inteligência é um erro, afinal, a gestão de dados também diz respeito à capacidade que se tem de entendê-los, em todos os pontos que eles são coletados, qualificados e utilizados. 

 

3 – Monitorar sem analisar os dados

 

O monitoramento até pode ser uma prática comum nas empresas, mas o grande erro aqui é não aplicar a inteligência para entender o comportamento desses dados e saber como usá-los de maneira estratégica, no momento certo. “A estrutura de como esses dados são coletados é essencial, como é que essa estrutura será mapeada para identificar esses dados é um elemento que faz muita diferença. Para fazer uma gestão de dados adequada é necessário trabalhar também o planejamento estratégico da empresa, para mensurar como isso está sendo trabalhado e se está permitindo chegar aonde a empresa espera”, ressalta  a professora do Mackenzie. 

 

“Outro detalhe fundamental é a questão da qualidade dos dados, se preocupam muito com a quantidade, com a captação massiva dos dados, sem ter uma qualidade de análise”, complementa. Muitas empresas, por exemplo, pecam em premissas básicas, como garantir que os dados não sejam “outlier”, que representam dados fakes, além do risco da possibilidade de dados sem qualidade tenham como origem até mesmo fraudes. Pollyana reforça que para fazer uma análise eficiente, é fundamental aprofundar numa estratégia consistente e evitar práticas que tragam quantidade sem qualidade. 

 

“Nessa análise, entra também a questão do ciclo de vida dos dados. Hoje em dia, uma opção bastante usual é o armazenamento na nuvem, o que economiza tempo e recursos financeiros, mas também tem a questão de por quanto tempo eles devem ser guardados em relação à sua atualização. Dependendo do tempo de armazenagem desses dados, eles podem não ter mais uma informação que é a mais adequada, a mais pertinente. Isso precisa ser analisado. De quanto em quanto tempo, esses dados devem ser renovados ou devem ser descartados. E ao longo de todo o processo, é necessário monitorar os resultados, de como as ferramentas desenvolvidas estão trazendo resultados que possibilitam a equipe tomar decisões mais embasadas pela gestão de dados”, complementa Pollyana. 

 

4 – Não pensar na segurança de dados

 

“A questão de segurança envolve, desde a proteção das informações ao trabalho preditivo para evitar falhas ou deixar portas abertas em servidores, que permitam a exploração de falhas para captação dessas informações”, afirma Pollyana.

Segundo a professora é fundamental pensar no acesso dos usuários. “Como é feito o controle, existe uma hierarquização, de acordo com diferentes tipos de sistemas, quem é que tem prioridade ou não para acessar ou editar determinada informação? É preciso se atentar até mesmo com a cultura de divulgação dentro da empresa, de como criar uma senha segura, de não emprestar a senha para outros usuários, considerar a jurisdição do país em relação à provedores e servidores e ao fornecimento de informações que estejam ligadas ao cibercrime. Outro erro que envolve a segurança, é não ter um plano de contingência, caso haja alguma falha, ou mesmo não realizar backup.  Por isso, é que hoje em dia, é muito mais usual algumas empresas contratarem serviços em nuvem, que garantem a proteção do servidor e a segurança de dados, aumentam a velocidade de processamento de dados, além da redução de custos de manutenção dentro da própria empresa”.

 

O impacto da LGPD na gestão de dados

 

“O mercado já vem tentando trabalhar e buscar soluções em relação a LGPD, desde 2019”, comenta Pollyana. Para a professora, o principal impacto será a necessidade de tornar os os dados anônimos. “Os dados tem que ter um tratamento para que não se permita a identificação de quem são, e isso envolverá um processo que precisa ser mapeado e realizado, e que exigirá uma série de adaptações e de mudanças de cultura dentro da empresa”, explica. 

 

Pollyana finaliza com um alerta para a operação de TI, que para se enquadrar nas obrigatoriedades da LGPD precisará contar com novas pessoas. “Por exemplo, o gestor de TI terá que pensar em uma pessoa que será responsável nominalmente por parte da gestão de dados dentro da empresa, além disso, será necessário também ter um comité de ética instituído. A operação de TI ligada a LGPD, amplia não só em relação às responsabilidades, mas também na forma como se trabalha dentro da empresa, ou seja, trará uma ampliação de funções e de elementos a serem gerenciados”.

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